

Bença, julho das Pretas.
Primeiramente eu peço a bença, a bença às mais velhas, a bença às contemporâneas, a bença às mais novas.

Na casa de minha biza Taninha e de meu avô Walter não se entrava e não se saía sem pedir a bença.

Foi pedindo a bença que me peguei pensando no Julho das Pretas, em tantas datas importantes para nós esse mês e sobre o que tudo isso quer dizer.

Mês da fundação do MNU, do nascimento de Luis Gama, filho de Mahin. De Mandela. Mês de Solano Trindade, mês do Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Mês de Antonieta de Barros… Mês de Tereza de Benguela…Mês de minha mãe.

Mais um mês que tomamos de assalto, dentro da dimensão ainda pequena das nossas bolhas digitais… tomamos também julho pra chamar de nosso, fruto das muitas conquistas das nossas, nossos e nosses que abriram e que vêm abrindo frentes…

O que estamos hoje fazendo nós do nosso mínimo protagonismo nas redes?

Estamos levando junto de nós os nossos — ou pelo menos tentando?

Pedir a bença é mais do que fé, é coisa nossa, é afeto e é, acima de tudo, respeito à nossa linhagem e é disso que se trata nosso protagonismo.

Se adquirirmos algum protagonismo que seja, por menor ou maior que seja, só é possível pela luta travada por todas, todos, todes, os, as, es nosses.

Por assim entender, ver uma das nossas brilhar só deveria nos causar afeto, respeito, senso de pertença, reconhecimento… Ela que ocupa aquele lugar, desejado inclusive pela branquitude, está ali e só deveria estar pelas mãos de suas mais velhas, de suas contemporâneas, de suas mais novas.

Ela que reina, ela mulher preta, não reina só, reina em nome de e por seu povo.

No sentido de resgate que não se trata de ambição, mas de recuperar e de reapropriar o que sempre foi nosso.

Existem simbologias sendo construídas para dar conta do novo tempo, e é bom que estejamos preparadas, mais do que nunca unidas.

Como uma vez disse Aimé Césaire em um discurso, acerca do conceito que cunhou e do qual nos apropriamos também por aqui, por necessidade gritante do existir, sobre o que dá conta a negritude em todas as suas dimensões:
“A negritude, como eu sempre disse, é nada mais, nada menos, que um conjunto de valores, do mundo negro, no mundo inteiro.” (Tradução Livre)


Nas pedidas de bença para entrar e sair, que possamos entender o significado de estarmos. É para além do eu, aliás, a dimensão do eu, no nosso caso, só é possível a partir do nós. Ou eu sou ou ninguém é. E se ninguém é, eu também não sou.

Em nossos ventres continuamos ardendo juntas a dor daquilo que nos é arrancado, mas também continuamos gestando juntas, as 3.000 possibilidades dos 3.000 mundos para o nosso existir.


A única coisa que não muda é a bença.
Afrofuturismo, sua bença.