Kimberlé Williams Crenshaw, professora das escolas de Direito na Universidade Columbia e da UCLA, defensora dos direitos civis estadunidense, conhecida pela introdução e desenvolvimento da teoria interseccional | Carla Akotirene, assistente social da Secretaria Municipal de Salvador, pesquisadora sobre os temas racismo e institucionais nas penitenciárias femininas da Bahia, mestra em Estudos Feministas e doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, Mulheres e Feminismo Na Universidade Federal da Bahia, autora de “O que é Interseccionalidade”, 4º título da Coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro.

Compreendendo interseccionalidade: por que não podemos discutir raça sem
considerar gênero e classe social?

4 min readNov 29, 2019

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Um assunto que nos interessa muito é o feminismo interseccional. Eu fui
introduzida a esse conceito de uma maneira extremamente holística, conversando com a minha tia, Maria Amália Cursino (Cofundadora e Diretora Executiva e de Conteúdo do Coletivo Pretaria), indo a palestras de intelectuais como Djamila Ribeiro… Confesso que a minha definição atual do termo interseccionalidade é básica e eu tenho certeza de que tenho muito a aprender. A aquisição de qualquer conhecimento é um processo continuo, não acontece do dia para noite e eu continuarei aprendendo com as nossas outras colunistas, com a literatura que nos é disponível e com discussões produtivas que surgirem no caminho.

Eu decidi abordar esse assunto na nossa coluna de novembro por diversas razões. Primeiramente, estamos em meio às reflexões que o Mês da Consciência Negra nos convoca. Por mais que a nossa luta seja incessante durante os 365 (ou 366) dias do ano, é importante parar para refletir sobre nossas representações, nossa ancestralidade e o que nós queremos ver no nosso futuro.

As minhas principais referências epistemológicas

Outra motivação foram as conversas que eu tenho tido com os meus amigos que, como eu, estão cursando Filosofia. Eles são em sua grande maioria caucasianos, de classe média alta e homens-cis. Ilustro essas características para contextualizar essas conversas. Eles são todos incríveis e extremamente abertos para um dialogo produtivo, até mesmo porque não seríamos amigos se esse não fosse o caso. Mas por mais que eles sejam receptivos e que esses assuntos tenham um grande impacto na vida deles, eles nunca tiveram contato com o tópico “interseccionalidade”.

Ao tentar explicar o assunto eu tive que entender o que interseccionalidade
significa para mim. Isso tem sido muito interessante. Tive que ler, sair um pouco da superfície. Por mais limitado que seja o meu conhecimento, nesses diálogos eu era a referência para eles, funcionando como uma ponte entre o trabalho incrível feito por tantos ativistas e indivíduos curiosos, mas desinformados. Eu não podia deixar essa curiosidade desaparecer, já que para movimentar estruturas, nós precisamos de aliados.

Colegas de turma do Curso de Filosofia — Universidade de Machester, Inglaterra.

Tenho certeza que essa característica não é exclusivamente minha, mas quanto mais eu vou aprendendo e estudando as desigualdades na nossa sociedade, maior a minha convicção de que raça, classe e gênero são onipresentes na nossa sociedade e tentar tratar cada assunto individualmente se torna uma iniciativa contraproducente.

Nós somos indivíduos pertencentes a grupos sociais, territórios, cada um com suas particularidades e diferenças. Diferenças essas que tornam tudo mais interessante, mas, sabemos, possibilitam a subordinação de diversos grupos. Por isso, não podemos tratar essas dimensões isoladamente umas das outras. As variações são diversas.

Por exemplo: a minha experiência como uma mulher negra é diferente da experiência de um homem negro com a mesma situação econômica. A minha experiência como uma mulher negra é diferente da experiência de outra mulher negra em uma situação econômica diferente. A minha experiência como uma mulher negra é diferente da experiência de uma mulher branca com a mesma situação econômica. A minha experiência como uma mulher negra é diferente da experiência de um homem branco com a mesma situação econômica. A minha experiência como uma mulher negra é diferente da experiência de uma mulher branca em uma situação econômica diferente. A minha experiência como uma mulher negra é diferente da experiência de um homem branco em uma situação econômica diferente.

É repetitivo. Eu sei. Esse é o propósito. As variáveis e combinações são muitas, e esses exemplos não incluem sexualidade, identidades culturais e nacionais, religião… Essas diferenças são interessantes para o debate e devem sempre ser observadas. Perseguimos a equidade de direitos e oportunidades. E essa equidade só será promovida quando estivermos trabalhando juntos, com objetivos em comum. O problema é estrutural. E para mover as estruturas temos que repensar epistemologias do norte global e dar máxima atenção às epistemologias pensadas no sul global.

Não haverá equidade em todas as intersecções sociais enquanto não entendermos que essas dimensões existem e devem ser consideradas.

Por todas as formas de existência.

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Coletivo Pretaria

ACERVO DE COMUNICAÇÃO DECOLONIAL, INTERSECCIONAL, ANTIRRACISTA, CIDADÃ E COMUNITÁRIA ATUALIZADO POR MEMBRES DO COLETIVO PRETARIA. UM PROJETO DO PRETARIA.ORG