Escrita na Quarentena
Hoje, dia 1 de junho de 2020, inicio uma nova trajetória como Colunista do Coletivo Pretaria. Coletivo potente. Aquilombador de pensamentos, escritas, reflexões. Coletivo de Mulheres Pretas focadas na comunicação antirracista. Escrevendo, ou tentando, lembro de Drummond, “ lutar com as palavras, é a luta mais vã”. Sempre luto com elas quando escrevo. E elas sempre ganham a batalha. Mas, insisto em ficar procurando a melhor palavra. Ainda mais agora, que estamos numa Quarentena, no auge de uma Pandemia.
O Tempo, inexorável, como afirma Machado de Assis, é o protagonista desse processo. Isolamento Social necessário e vital nos aponta e aponta. A Pandemia nos coloca em confronto conosco, com a outra, o outro. Com a Vida e suas mazelas. Mazelas escancaradas pelo Covid-19. Falando da Pandemia, falamos sobre a Saúde. Sobre o Sistema Único de Saúde que está assoberbado de doentes, corpos. Da Saúde física, mental. Discorremos sobre as desigualdades raciais, porque são raciais, antes de serem sociais. Pensamos, principalmente, nas Jovens e Mulheres Negras nessa Pandemia. Somos estatísticas no aumento da taxa de Feminicídio que subiu na Quarentena. Podemos somar a esse quadro desolador o sub emprego, a informalidade, a violência na periferia, as doenças que afetam a Saúde da População Negra — hipertensão, diabetes, doença falcêmica, obesidade, as denominadas comorbidades.
Fiquem em Casa! Porém, nem todas/todos podem seguir esse procedimento que é fundamental para conter o avanço e a letalidade da doença. Precisam trabalhar, subsistir, porque “ a fome tem pressa “, disse Betinho. E, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as Mulheres estão na linha de frente como profissionais de Saúde, e são, na sua maioria, Negras.
Buscando os dados do Instituto Brasileiro Geográfico — IBGE de 2019, 13, 5 milhões de Brasileiros estão na Linha da pobreza e se autodeclaram pretos ou pardos, segundo os critérios de avaliação do Instituto. A Quarentena mostra isso. Nos isola de uma doença letal, mas nem sempre é possível, pra uma grande parcela da população, seguir essa orientação.
A Quarentena, tão necessária, é cruel. Nos afasta dos amigos, família, amores, mas precisamos viver pra vivenciar o Pós Covid. Tempos difíceis, com certeza.
Na Filosofia Africana tem um Conceito denominado UBUNTU, ou seja, eu te contenho. Você, meu irmão, irmã, vizinho, não é o outro. Pegou pra um, pegou geral. Estamos vendo esse Conceito sendo posto em prática nas Comunidades com as suas Redes de parcerias. Com as Mulheres conseguindo manter seu sustento fazendo máscaras. Doações de cestas básicas e kit de higiene. É uma Rede de solidariedade Preta, auxiliada, também, por empresas, artistas, jogadores de futebol, por Brancos aliados nessa construção.
Comecei lutando com as palavras e vou lá no meu Livro “Dororidade” pra resgatar que a dor provocada pelo Racismo nos une. Une as Mulheres Pretas. Voltando aos dados do IBGE, a população Preta não está tendo muita chance com essa Pandemia. Já tem estudos que apontam que a letalidade está sendo maior nessa População.
Nossos passos vêm de longe e as Mulheres Negras sempre arrumaram sua forma de resistência diante das adversidades. E dessa vez não está sendo diferente. O Tempo, hoje mais virtual do que nunca, une e auxilia a humanidade naquilo que o isolamento nos tira. Informa. Faz chamada de vídeo pra ver filhos, pais, amigos.
Contudo, nem todas/todos conseguem ficar conectados. Muitas vezes tem um buraco na comunicação. Internet fraca. Falta de dinheiro pra acessar os dados móveis. As desigualdades afloraram com a Pandemia. Mas, pensemos que já estamos no meio do caminho, caminhando pra um Tempo, que será diferente, porém não nos fará perder a Esperança de dias melhores!