Minhas máscaras
Mais uma vez as pontes e conexões que vimos fazendo através das redes, me oportunizaram mais uma busca por conhecimento e mais uma viagem pra dentro de mim.
Através do grupo Pontes para Pretxs, pude fazer parte de um grupo de estudos sobre Frantz Fanon, psiquiatra, filósofo e revolucionário, nascido na Martinica.
A primeira parada pela sua obra foi no livro da moda Pele Negra, Máscaras Brancas, título muito revisitado por conta de Corra!, filme do gênero terror escrito e dirigido por Jordan Peele, cineasta negro norte-americano.
O dado novo aqui é que Jordan, de forma muito inteligente e inovadora, usa a linguagem hollywoodiana do cinema para tratar do racismo sob o ponto de vista do terror psicológico e do mentecídio — ou domínio da mente do negro — pela branquitude, o que de certa forma também faz Fanon, ao abordar as disputas psicológicas promovidas pelo racismo. Para quem ainda não assistiu, coloque o filme na lista dos obrigatórios.
Pauso aqui de forma breve para falar de branquitude: é a condição do branco como ser universal, no topo da hierarquia social, que hierarquiza as demais condições étnico-raciais como inferiores. Trago esse conceito de forma bem superficial, apenas com o intuito de contextualizar, pois é preciso debruçar mais a fundo sobre esse vasto e complexo tema das questões raciais, inclusive ressaltando que alguns autores e pensadores vão preferir o termo branquidade.
Voltando à minha jornada por Fanon: a primeira boa sorte que tive foi aprender sobre Fanon a partir de um professor negro também da Martinica, francófono como Fanon. Suas narrativas nos deram um pouco da condição real do que era a experiência da colonização francesa, a partir das vivências de quem sentiu na pele suas estruturas.
Aliás, pele que dá nome ao livro pelo qual começamos a investigação de Fanon, e pele que habita meu professor, chamado Médrick Varieux, um negro retinto (com maior concentração de melanina) que, também como Fanon, pode ser educado em Paris. Pele que também me habita, enquanto mulher negra de mente colonizada.
O primeiro processo foi perceber-se romantizando a França, a partir de nossas profundas construções de subjetividades, pautadas nas nossas experiências midiáticas. Romantizar a França é romantizar todo um processo civilizatório trágico, conduzido pelas mãos dos europeus.
Nesse primeiro processo já me percebi condenada e o quanto ainda haveria de atravessar o atlântico em busca da minha libertação. A pergunta que me fica é: que máscaras carrego eu, na pele que me habita?
É processo de uma vida inteira.