Ninguém solta a sala virtual de ninguém.
Fui tomada de um imenso vazio.
Mais um menino preto assassinado dentro de casa.
João Pedro, presente. Presente para nos lembrar o quanto nos custa existir.
A cada 23 minutos, João Pedro Presente.
Nó. Vazio.
Operação policial em favela, em meio a uma pandemia? Rotina.
Não faltasse isso, a covid-19 nos impõe contabilizar mortos de manhã à noite.
Em sua maioria pretos, periféricos. Rotina.
Sem qualquer amparo de nenhuma autoridade, muitos de nós não sabemos se ficamos em casa ou se vamos à rua, lutar pelo básico: COMIDA.
Dentro de um jogo perverso, onde a vida não é o eixo central, estamos discutindo entre morrer pelo vírus ou morrer de fome, sendo que a segunda não devia ser uma opção. Sendo que essa também não deveria ser nem a discussão.
No comando do barco a deriva, uma reunião de monstros televisionada, cortada aos pedaços, reproduzida, repetida… dilaceram o nosso entendimento do que é Brasil.
Vazio.
Por mais que pareça impossível nesse momento, de alguma forma re-existir é preciso. Nos paralisar, nos calar, também é nos de abril de matar.
A morte de João Pedro e as mortes dos pretos por Covid trata do quanto o Brasil ainda está mergulhado na colonialidade e do quanto ainda opera de forma racista em todas as suas camadas de monstruosidade.
Vazio.
Pensamentos, reflexões, reconexões.
A busca leva a espaços de acolhimento virtual entre manas pretas, onde haja a possibilidade de trocas reais, sem julgamentos, sem classificações e sem disputas teóricas vazias. Dororidade.
Dororidade, conceito criado pela Escritora-Mestra Vilma Piedade, é aquilo que nos corta e nos atravessa em comum, aquilo que nos norteia, nos permeia, aquilo nos faz irmãs.
Através desses espaços travamos a reontologização de nós mesmas e de todas nós. É uma busca por todas as negações de nossas existências.
Juntas pautamos as nossas negritudes, completamos buracos, preenchemos vazios.
Não que tenhamos conseguido apagar o que provoca ceifar de vidas pretas, mas, juntas, encontramos existência possível para nós.
Juntas damos sentido àquilo que somos.