Foto de Alberto Henschel restaurada e colorizada por Marina Amaral

Os estertores da branquidade agonizante

Coletivo Pretaria
3 min readJul 14, 2020

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Silvio Almeida, jurista e filósofo, tem pautado cotidianamente em suas entrevistas as resistências ao projeto antirracista por parte de uma branquidade que não consegue “largar o osso”, ou em outras palavras: incapazes de abrir espaço em seus lugares de privilégio para que os deslocamentos dos diagramas de poder possam acontecer e, assim, sejamos identificades como sujeites sociais, dotades de cidadania e humanidade, elegíveis a quaisquer espaços e posições na sociedade e em instituições públicas ou privadas.

Isso, escrito dessa forma, sentencia o caminho árduo, longo e penoso de sempre. E tudo se torna ainda mais distante quando nos deparamos com falas absolutamente racistas a essa altura da História, cada vez mais patéticas, demonstrações de flagrante desespero, como quem se vê à deriva, em mar aberto, após um naufrágio, sem saber nadar, se debatendo, perdendo fôlego, afundando em mediocridade.

Recentemente testemunhamos episódios do mais puro e destilado racismo, que evidenciam as tensões que temos promovido diante do fim do mundo e que têm funcionado. Apenas precisamos estar atentes à interpretação dos acontecimentos.

Quem disse que aquela “de sangue francês”, a gaúcha racista Luciana Tomasi, precisa fazer “um filme da senzala”? Aliás, olha o reducionismo do termo se referindo à História Afro-brasileira? Essa foi sua infeliz fala durante LIVE no perfil do Instagram da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do RS — APTC-RS, que foi retirada do ar, já que, como esperado, não souberam reagir à baixeza de uma racista. Mas o referido trecho pode ser visto aqui no perfil da cineasta Sabrina Fidalgo.

Seria uma obra de fetiche escravocrata certamente, concebida por uma mentalidade colonial, de repertório exíguo, limitado, despreparado e iletrado social e racialmente. Essa Tomasi insiste em não conhecer o Brasil, prendendo-se a sobrenomes europeus como tábuas de salvação no mar bravio das reparações. Dispensamos esse tipo de contribuição. Caso viesse a termo obra assim, certamente seria alvo de nosso rechaço e de nossa crítica veemente. Mal ela sabe que ela nos poupa desse vexame.

Diante de tantos exemplos malsucedidos de lançamento de produtos e campanhas publicitárias racistas, uma cervejaria lança a cerveja CAFUZA, trazendo no rótulo uma negra escravizada fotografada por Alberto Henschel, no começo do século passado, achando que ia passar ilesa. Só pode. Não se trata de patrulha, é simplesmente reflexo da assimetria brutal e despreparo profundo da branquidade brasileira em (re)conhecer o Brasil e suas dimensões raciais, que são CENTRAIS. A prepotência é tanta que nada é considerado ou percebido no processo.

Porém, além dos nossos enfrentamentos enquanto pretas, pretes e pretos que somos, existe uma possibilidade que emerge na luta antirracista, pela democracia e por direitos: es aliades branques. Ainda são poucas mulheres e muito poucos homens — levando em consideração que homens cisheteronormativos figuram no topo da cadeia de privilégios e não se movem na direção da abertura de espaço e oportunidades como deveriam — que empreendem em seus cotidianos ações antirracistas.

Mas é aquilo: o fim do mundo é para quem se prepara para ele.

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