Quero ver quem vai rir!
PRIVILÉGIO: direito, vantagem ou prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria.
Regalia também é uma palavra que conversa com privilégio, um termo que tem tudo a ver com esse momento em que negros (as) estamos atravessando.
Lidamos com uma novidade na luta contra o racismo no Brasil. Se antes brigávamos por direitos, agora, além de não abrirmos mão do que já conquistamos, queremos acessar os espaços de privilégios! Tudo o que antes era reservado exclusivamente aos brancos (as) também nos pertence. E é aí parceirinhos (as) que começa o caô! A galera branca dita “desconstruída” deixa cair a máscara! É como se falassem: ´pode até encher sua bacia aí, mas não vem esvaziar minha jacuzzi!!!!”
Recentemente tivemos dois acontecimentos contundentes — âmbitos mundial e nacional — que confirmam esse momento da dinâmica da luta racial. Primeiro com a Ugandense Vanessa Nakate, jovem ativista ambiental que teve sua imagem cortada, isso mesmo, cortada da foto para qual posou junto à ativistas de outras nacionalidades, todas BRANCAS, em Davos durante o Fórum Econômico Mundial. Essa missionária da causa ambiental, de apenas 23 anos, que defende a luta pelo meio ambiente em Uganda, onde não é permitido fazer protestos, não silenciou sua dor e usou as redes sociais como ferramenta para expor a ferida aberta. “…Chorei muito por causa disso, porque foi a coisa mais dolorosa… Me senti muito magoada, perturbada. Me senti muito frustrada”, disse. Após o caso de extremo racismo, muitos ativistas também a procuraram para dizer que enfrentaram situações semelhantes, mas que não tiveram coragem de denunciar. O número de seus seguidores no Twitter pulou de 20 mil para 130 mil em cinco dias e a organização do Fórum foi obrigada a se retratar, inclusive publicando a foto original.
O segundo evento, fresquinho, fresquinho ocorreu aqui no Rio de Janeiro com a empresária da área de cosméticos Lorena Vieira, casada com o DJ Renan da Penha, que no dia 30 de janeiro de 2019 foi levada de uma agência do Banco Itaú para prestar esclarecimentos na 22ª DP, no bairro da Penha, por motivos de: ter muito dinheiro em sua conta! “Foram me buscar dentro do banco. Não estava entendendo a demora. Me tiraram de lá, falaram que não era eu na identidade, que o dinheiro que estava entrando não era normal. Além do vexame, ficaram fazendo perguntas… Por que não posso ter dinheiro? Por que não posso ganhar dinheiro com cosméticos? Não posso ter dinheiro porque sou mulher de um ex-presidiário? (…) Não é porque eu sou preta e humilde que sou criminosa!”, desabafou Lorena nas redes. A gente também não sabe porque motivos você não pode ser rica, Lorena! Mas, saiba que tem um bonde preto com conta nessa instituição financeira agindo para encerrar vínculo!
Esses são apenas dois casos recentes, mas, eu posso apostar com você que agora, nesse exato momento, alguém preto (a) está sendo oprimido (a) por “ousar” usufruir de espaços de privilégio branco! Digo a vocês que essa será a nossa correria daqui para frente e nos próximos anos, meus irmãos e minhas irmãs. Cada vez que avançarmos mais opressão enfrentaremos. Ninguém vai abrir mão assim, de bandeja! Desconstruídos (as) ou não, brancos (as) não estão nesse mundo para ceder espaço para que nós possamos sorver da mesma regalia na qual eles (as) vêm se esbaldando até hoje. Quero ver quem vai rir ao ver embaixadas repletas de diplomatas PRETOS E PRETAS; ou quem vai achar graça de banqueiros, CEOs, cientistas, promotores, gênios (as) PRETOS E PRETAS? Ninguém vai achar graça disso, além de nós mesmos e alguns aliados (as) brancos (as). E quando eu falo alguns, são alguns mesmo!
Só que tem um detalhe nesse rolê de disputa de território privilegiado; nós estamos em bando! Nós agimos em comunidade, nós estamos nos organizamos e vamos para frente, para cima, nunca mais para trás!
A fase do didatismo ficou para trás! Na luta por equanimidade de oportunidades e, consequente, por privilégios só tem espaço para nossa gente preta e para aliados (as). E aliado (a) para mim tem que agir assim:
Joaquim Phoenix durante seu discurso de agradecimento ao prêmio de melhor ator por sua atuação em O Coringa, concedido pelo Bafta — o Oscar do Reino Unido. “Eu me sinto conflituoso, porque muitos outros atores, que também merecem, não possuem esse mesmo privilégio. Eu acho que nós passamos uma mensagem muito clara para pessoas de cor: que vocês não são bem-vindos aqui”