REMÉDIO TARJA BRANCA
Em 1935, cientistas de Massachusetts analisaram, em laboratório, amostras de sangue de um membro da Ku Klux Klan após ele se enrolar em uma bandeira confederada enquanto queimava cruzes. Assim, os pesquisadores constataram que o homem tinha, em seu corpo, uma quantidade exacerbada de supremacisferato de racistofenol, a substância que causa o racismo explícito. Era a ciência dando a resposta fácil que todo mundo queria ouvir: o racismo é uma doença. E a cura veio! Os cientistas foram capazes de criar uma solução química que inibia o poder deste composto — que, depois de inúmeros testes no fim da Segunda Guerra, acabou ganhando o nome comercial de Racistil®.
Desde então, o Brasil se tornou um dos maiores consumidores de Racistil® do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos. “Tomou Racistil, o racismo sumiu”, dizia o slogan na TV, em horário nobre. Vocês lembram? Décadas e mais décadas de uso de Racistil® fizeram com que os racistas pudessem viver em paz, sem o incômodo de serem constrangidos pelas próprias palavras e atitudes.
Porém, nos últimos anos, parece que o Brasil parou de importar essa medicação. É só olharmos em volta. O último caso midiático foi o de um PM da reserva em Santa Catarina que agrediu a própria ex-mulher com termos racistas, todos registrados em vídeo. O motivo? Ele toma “remédios controlados” e, pelo visto, faltou o Racistil®. No ano passado, o Racistil® também faltou a uma advogada de São Paulo que atacou funcionários de uma padaria com termos racistas e homofóbicos, já que ela também alegou tomar os tais “remédios controlados”. Em 2015, uma australiana disse aos funcionários e clientes negros de um salão de beleza em Brasília: “Só quero que as pessoas da sua cor não me dirijam a palavra”. A mesma foi diagnosticada com uma doença mental e, de forma inédita, condenada a cumprir medida de segurança, em regime de tratamento ambulatorial. Esse excesso de supremacisferato de racistofenol no sangue é um perigo…
Os níveis alarmantes da substância no governo também estão ficando cada vez mais assustadores. Já tivemos assessor para assuntos internacionais fazendo gesto supremacista, secretário especial de Cultura fazendo cosplay de Goebbels, paraquedistas saudando o presidente com paráfrases hitleristas, o fetiche do copo de leite no melhor estilo Hans Landa, o tal “perdão” ao Holocausto… Há um remedinho faltando em Brasília, e não é a cloroquina.
Sim, estamos em meio a uma crise, com previsão de crescimento do PIB abaixo de 2% para o próximo ano… De acordo. Mas, se o país continuar com o racismo explícito aflorado desse jeito, não haverá nação que nos aguente. O Brasil precisa voltar a importar o Racistil®, já que o racismo explícito, assim como uma infiltração, acaba expondo o racismo estrutural. E, como a gente sabe, sente e vê, toda a economia nacional depende dele.