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Um setembro para esquecer: o golpe é aqui (embora já o fosse antes)

3 min readSep 20, 2021

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Considerando-se a semana bizarra dita de celebração da pátria — sim, porque se mátria fosse, metade das neuroses freudianas e faoranas não existiria — e ainda alguma anterior sobre problemas óbvios a umes e não a outres, vale deixar registro sinceramente final, digo em palavras, de choque, nojo e revolta. Começando pelo último, o problema em pagar “um pouco a mais de luz” é o de sustar quaisquer perspectivas de recuperação econômica pós-pandemia-da-pandemia-nunca-findável. O reajuste na tarifa de energia elétrica, disse Flávia Oliveira em coluna do dia 3 de setembro em O Globo (nela, eu confio), pressiona a inflação, reduz o parco poder de compra de famílias especialmente em situação de insegurança alimentar, pobreza ou miséria, espanta investimentos e deteriora a cadeia produtiva de múltiplos setores. O problema, então, parece óbvio, mas não o é ao presidente da República e às equipes de pelo menos dois de seus ministérios.

Mais óbvio, e caro, à gestão de Jair Bolsonaro é destruir o ambiente político institucional para a transição de poder em 2022, dizimar as populações negra, indígena, quilombola, ribeirinha, das matas e com deficiência do país e afundar o Brasil junto à sua derrocada política. As aventuras antidemocráticas parecem ser nunca página virada neste pedaço de terra americano e, qual a colônia quinhentista, perseguem o ritmo dos Oitocentos — em meio a golpes e à reencenação monocultura escravocrata (com direito a ABC da liberdade de herói e patrono da abolição romantizando a escravidão e o sofrimento de pessoas negras nos tumbeiros em obra infantil republicada por editora pertencente à célebre historiadora e antropóloga branca uma vez detratora das cotas raciais e Beyoncé) — . Porque não cessa, fico com as palavras de Marcos Queiroz em texto acerca das origens da desindentificação à brasileira: “[…]. Deus acima de tudo, Brasil acima de todos, todos a três palmos do chão”.

Já a respeito do primeiro, bom, o recurso a golpista de outra monta e retórica tão volátil quanto à própria lealdade política pode servir — a quem por opção ou canalhice ainda escolhe acreditar — ao arrefecimento dos ânimos e ao aplacamento em parte, ao menos por ora, da crise econômico-político-social a que o país foi arremessado pelo incompetente mandatário eleito para moralizar a agenda (manipulada) brasileira de 2018. Dado o cansaço, o desgaste e o desprestígio de si mesmo e sues asseclas nos cenários doméstico e internacional, caberá no calor do momento silenciar um pouco para, logo mais, inflamar novo grau de ruptura. O presidente da Câmara concordou em protelar a sangria até 2022, tendo em vista negócios lucrativos, e o do Senado tem a apatia digna de uma porta, além da covardia. Restou ao STF acionar os freios da República, também esquecidos nos anos 2016–18 pelo mesmo tribunal.

A instabilidade de aguardo do próximo rompante, do prolongamento da bancarrota, da série galopante de reformas estruturais passadas com atropelo, sem amplo debate ou participação popular em ataque à classe trabalhadora e à representação de minorias políticas em âmbito institucional-parlamentar (mulheres, pessoas negras, indígenas, quilombolas, LBTTGIAP+ e com deficiência) e das quase 600 mil mortes pela Covid-19 no Brasil segue instalada e sem prognósticos de melhora a curto e médio prazos.

Sobre o futuro, se houver, resta esperançar por um país ao qual retornar. Caso contrário, triste e trágico fim.

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